“Estou grávida, mas não estou doente”. Repeti essa frase por muitas vezes na minha primeira gestação quando as pessoas queriam fazer algo por mim e eu me forçava a fazer tudo.
E assim continuei: fazendo tudo o que eu fazia, trabalhando até tarde, entregando como sempre entreguei, subindo e descendo escada, cuidando das coisas da casa…
Engordei 20kg, mas as aulas de pilates antes e a hidroginástica após o horário do trabalho me deixavam aliviada de que eu estava cuidando do meu bebê.
Então meu filho nasceu! Após uma noite toda em trabalho de parto, lembro do cheiro dele quando veio direto para o meu colo, e ficou ali quentinho, perto de mim. Não lembro do choro, só lembro de achá-lo lindo, de colocá-lo em meu peito, ver ele aprendendo a mamar e eu (re)descobrindo a natureza sábia e perfeita. Naquele momento nascia meu primeiro filho – isso era óbvio e todo mundo sabia.
O que eu demorei algum tempo para perceber é que ali, também, eu renascia! Uma outra mulher estava surgindo!
Idealização e a realidade de ser mãe
Eu sempre quis ter filhos, sempre falei que não precisava de ajuda para cuidar dele, precisava apenas de alguém para dar conta da casa. E foi assim que meus dias seguiram: trocando fralda, dando banho, amamentando em livre demanda, emendando uma mamada e outra na poltrona de amamentação, pois ali mesmo eu caia no sono.
Tive uma maravilhosa licença maternidade, fazendo aulas de dança materna, curso de Shantala, consultas longas no pediatra que me faziam aprender sobre mim e sobre meu filho, acompanhando, no dia a dia, cada evolução dele: sorriso, levantar a cabeça, balbuciar, ficar em pé no berço.
Mas preciso confessar que nem só de lindos momentos vivi essa licença. Além de ter sido bem diferente daquela que eu idealizava, com tardes na piscina e horas na academia, ela também teve momentos de solidão, desespero, raiva, angústia, vontade de sumir…
Ao cuidar de um outro ser, aprendi que o que eu achava que era o meu limite não era, que se eu fazia muitas tarefas, eu consigo realizar mais, que a força que eu tenho é inabalável e que todo o amor que eu tinha sentido até então era um amor diferente do que eu aprendi a sentir.
Coloquei outro sentido nas coisas, voltei a ver a praia, a chuva, a pedrinha da calçada, como se fosse a primeira vez. O toque ficou sutil e algumas novas dores também tomaram conta de mim.
O fim da licença-maternidade
A minha carreira, tão importante na minha vida, quase foi deixada de lado quando eu tive que voltar a trabalhar ao final de uma licença de 7 meses – período esse superior ao que a grande maioria das mulheres têm de licença maternidade e que eu considero o mínimo que deveria existir.
E mais uma vez tive que encarar um novo desafio, com novas aprendizagens e crescimento.
Voltar a trabalhar após uma licença maternidade é um dilema perverso: tivemos que nos entregar tanto para aquele ser tão dependente, criamos vínculo e, após passar 24h por dia junto dele, temos que nos separar por mais de 8 horas, no mínimo. É um corte abrupto que machuca e nos faz sofrer antecipadamente.
Ao mesmo tempo, sabemos que vamos perder aquele sorriso, cada pequeno desenvolvimento, as novas comidas, as novas palavras, precisamos nos adaptar à uma nova/antiga realidade: amigos, trabalho, produção, trabalho em equipe.
Por mais que isso doa, em um primeiro momento a gente vai se adaptando, percebendo a empatia (ou não) das pessoas ao nosso redor, conhecendo mais o lugar que trabalhamos, encarando o trabalho de outra forma, conseguindo nos impor mais, fazendo as tarefas com mais praticidade e resiliência e olhando a vida sob outra perspectiva.
Também começamos a entender, que apesar de “nosso”, o filho é de toda uma comunidade. É em nossos braços que eles se sentem seguros, é o nosso colo que procuram quando choram, mas estar aos cuidados de outras pessoas – que cuidam bem dele, claro – também é bom para a criança, e para aquela mãe que, ao estar com seu filho, se entrega 100%.
Parentalidade, aprendizados
Hoje vejo o quanto esse processo me amadureceu, mas se eu pudesse voltar no tempo, faria tudo com mais leveza. Eu absorvi muitas coisas e me sobrecarreguei, sofri e, algumas vezes, inclusive descontei no meu filho, sofrendo muito mais por isso!
Não… gestação não é doença, mas é um período único em nossa vida em que estamos investindo energia para criar um outro ser humano. Temos dentro de nós “futuros cidadãos” que vão formar a próxima geração. Por isso cuidar do corpo e da mente é fundamental!
Está tudo bem aceitar a ajuda de alguém para pegar aquele papel que caiu no chão.
Sim, está tudo bem trabalhar um pouco menos e ir para casa dormir porque estamos cansadas.
E também está tudo bem aceitar que podemos desconectar do mundo lá fora e nos conectar conosco e com aquela pessoinha que está dentro da gente.
Deixar-se cuidar
Na ânsia de darmos conta de tudo, conquistar o que as mulheres antes não conseguiam e de acharmos que temos que ser fortes o tempo todo, podemos estar matando dentro de nós características femininas tão essenciais como a intuição, o acolhimento, a empatia – que nos auxilia tanto na maternidade como no mundo corporativo.
Precisamos entender que, ao nos tornarmos mães, assumimos uma função nova e, tal qual qualquer nova atividade, precisamos nos dedicar à aprendizagem – e isso vai muito além do enxoval e do chá de bebê. Precisamos falar sobre o puerpério, sobre a solidão que sentimos estando ao lado da pessoa que se tornou a mais especial em nossas vidas, mas que essa pessoa não preenche o vazio que estamos sentindo quando a gente pensa que às 3h da manhã estão todos dormindo e se divertindo e só nós estamos acordadas amamentando.
Pós-parto, o que tem que ser dito?
Precisamos falar que ter filho é encontrar um amor que nunca encontramos, mas é também enlouquecedor quando somos privadas das horas de sono e do looping de atividades que temos que fazer: troca fralda, mama, coloca pra dormir, acorda, troca fralda e assim sucessivamente dias seguidos.
Um preparo pré-natal deveria ir muito além dos cuidados médicos gestacionais. Entender como será nosso parto é extremamente importante, mas também podemos pensar em como será o pós-parto: quem pode nos ajudar com a amamentação, quais são os profissionais que podem nos auxiliar, quem será nossa rede de apoio, como saber se tenho só um babyblues ou se é uma depressão pós-parto?
Eu tive a grande sorte de ter encontrado ótimas profissionais que me ajudaram nesse período, que me mostraram um outro lado da maternidade.
Ao voltar a trabalhar também tive a sorte de ter chefe, RH e colegas de trabalho que respeitaram e acolheram minhas escolhas – e que, vale ressaltar, eu tive a coragem de expor. Sei que muitas mulheres não tiveram e não tem a mesma sorte.
Em resumo
Por isso, ao gestar um ser humano, preocupe-se com a sua saúde física, mental e emocional. Busque informações! Não tenha vergonha de perguntar o que talvez seja óbvio para algumas pessoas, não aceite tudo o que lhe é dito! Questione, busque informações em fontes diversas, questione até mesmo os médicos.
Entenda que seu corpo fez de duas células um ser humano com cérebro e você é capaz de ser uma mãe maravilhosa, só precisa entender que está aprendendo a exercer esse papel e, como tudo nessa vida, você se torna melhor a cada dia!
Entenda que ser mãe é um papel primordial em nossas vidas, que nos enriquece, nos fortalece, mas que dentro dessa mãe ainda existe uma mulher inteira, com seus desejos e anseios, respeite essa mulher – dê esse exemplo a seus filhos para que no futuro eles respeitem a você, a eles mesmos e ao próximo!
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Tarsila P Viggiani é Relações Púbicas, Educadora Perinatal, Doula, Mãe do Joaquim e do Pedro, dona de casa, amiga e milhares de outras coisas que as mulheres podem ser hoje. E por entender que ser mãe é algo tão importante em nossas vidas, mas não é a única coisa, criou a Cy Assessoria Familiar, a primeira empresa voltada para a jornada materna, informando, acolhendo e empoderando a mãe em seus mais diversos papéis.
Contato: @cy_assessoriafamiliar
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> Emoções, o que são e como são feitas?, da neurocientista Caroline Hannickel
>> Agradecimento pela imagem: Ivone de Melo ✨