“Alegrias são dádivas do destino, que demonstram seu valor no presente. Sofrimentos, ao contrário, são fontes de conhecimento, cujo significado se mostra no futuro”. Rudolf Steiner
Como ponto de partida para refletirmos sobre como falar sobre emoções quero usar um sonho contado por C.G. Jung:
“Era noite em um local desconhecido e estava difícil avançar contra uma enorme tempestade. Além disso, a neblina estava densa. Eu segurava uma pequena luz, protegendo-a com as duas mãos, pois ela ameaçava se apagar a qualquer momento. Tudo dependia de eu manter viva essa luzinha. De repente, senti algo me seguindo. Olhei para trás e vi um enorme vulto negro atrás de mim. Ao mesmo tempo, tinha consciência – apesar do susto – de que eu, independente de todos os perigos, precisava salvar a minha luzinha na noite e na tempestade. Quando acordei, compreendi imediatamente: Era … a minha própria sombra nas brumas, provocada pela pequena luz que eu estava carregando na minha frente. Sabia também que a pequena luzinha era a minha consciência; a única luz que eu tinha … infinitamente pequena e frágil em comparação com as forças da escuridão, mas era uma luz, minha única luz.”
Nossas emoções podem ser a luz, que ilumina e dá sabor à vida. Podem nos trazer a alegria de viver, nos impulsionar para nosso futuro desejado, acionar nossa vontade de realizar coisas, deixar nossos caminhos mais floridos, enfim, nos colocar protagonistas de nosso destino.
Mas podem ser também, sombras, que inundam nosso coração de medos, que nos afundam em um mar de culpas e lamentações, que nos paralisam, nos levam para o mundo da depressão e da ansiedade.
As emoções são geradas em nossas necessidades atendidas ou não atendidas, sejam nas relações com outras pessoas, com o mundo a nossa volta, ou mesmo com as situações da vida. Nós vivemos para atender nossas necessidades. Em tudo o que fazemos na vida está por trás o atendimento de uma necessidade. Na nossa infância as nossas percepções e interpretações sobre como nossas necessidades são ou não atendidas pelos acontecimentos e circunstâncias externas e/ou pelo comportamento de outras pessoas, geram em nós emoções e sentimentos que podem deixar marcas profundas.
Impactos da criança no Eu atual
As necessidades que foram satisfeitas durante a infância nos levam a suportar e lidar com mais resiliência com as frustrações e privações do mundo adulto. Ao contrário, quando as nossas necessidades foram frustradas muitas vezes durante a infância, permanecerá na vida adulta uma constante “fome” e a procura incessante por saciar estas necessidades. Isto tudo acontece em nosso inconsciente. No nosso consciente aparecem apenas as emoções que estas marcas provocam quando situações do nosso cotidiano nos remetem ao que vivenciamos na infância.
Necessidades atendidas:
Quando temos uma necessidade e ela é realizada, as emoções que surgem são de satisfação, felicidade, prazer, relaxamento. Quanto mais nós vivenciamos na infância situações de realização de nossas necessidades, mais nos fortalecemos, aumentamos nossa autoconfiança de que somos capazes, aumentamos nossa motivação para realizar mais necessidades.
Ocorre que nem todas as necessidades podem ser atendidas na vida, mas ficamos mais preparados para fazer escolhas entre estas ou aquelas, para entender os porquês de não realização de uma necessidade em determinado momento e ainda, que podemos postergá-la com tolerância para esperar, e assim temos resiliência e motivação para tentar novamente se for preciso. Podemos dizer que ficamos na “condução de nosso eu”, estamos no “leme” de nossas vidas. Podemos fazer escolhas conscientes do que queremos.
Necessidades não atendidas:
No caso das necessidades não atendidas, as emoções que surgem são de tensão, carência, frustração, ameaça, medo. Quanto mais nós vivenciamos na infância situações de não realização de nossas necessidades, mais estas emoções ficam gravadas em nossa memória e geram sentimentos de incapacidade e impotência levando a comportamentos tais como: fingir-se de “morto”, resignar-se, engolir “sapo”, paralisia, raiva, fugir dos desafios, provocar, usar “jogos de poder”, tornar-se violento. Estes comportamentos podem levar a patologias como depressão, ansiedade, distúrbios alimentares, entre outros. Podemos dizer que “perdemos a condução de nosso eu”, ficamos a mercê do “mar bravio”. Temos dificuldades de enxergar saídas e achamos que não temos escolhas.
Autoconhecimento emocional
Entender, conhecer e reconhecer nossas emoções no dia a dia, buscando identificar de quais necessidades elas são originadas, é um grande passo para lidarmos melhor com elas. Como no sonho do Jung, há uma luz que é trazer para nossa consciência resposta às seguintes perguntas: Quais são minhas principais necessidades? São de sobrevivência? De ser amado e querido? São de pertencer a uma família, a uma organização? São de respeito? Ou De se sentir capaz de realizar coisas? Talvez de autonomia? Autoimagem positiva? De identidade? De liberdade? São tantas. Quais são as nossas?
Vamos praticar:
Por fim, vamos realizar um exercício:
- Feche os olhos e respire fundo de 4 a 5 vezes.
- Pense em uma situação positiva que você viveu.
- Quais emoções surgem quando pensa nesta situação?
- Tente buscar dentro de você quais necessidades suas foram atendidas nesta situação que geraram estas emoções.
- Abra os olhos.
Dica: Quando as emoções que nos tomam ao nos depararmos com os desafios de nosso dia a dia ficam incontroláveis, trazer à consciência as necessidades não realizadas através de exercícios como este é de grande ajuda.
Lembrando ainda o sonho do Jung: “…Sabia também que a pequena luzinha era a minha consciência; a única luz que eu tinha … infinitamente pequena e frágil em comparação com as forças da escuridão, mas era uma luz, minha única luz.”
Mas lembre-se, se a dor for grande demais, pedir ajuda é o melhor caminho.
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Joincy Luz é Coach, Mentora, Consultora Organizacional, Aconselhadora de Carreira, Mediadora de Conflitos e Facilitadora de Grupos.
> Biografia:
- Textos de Rudi Ballreich do Curso de Formação de Mediadores – EcoSocial – Setembro de 2011
- Dream Analysis: Notes of the Seminar Given in 1928–1930 is a book by Swiss psychiatrist, Carl Gustav Jung. It was first published in English in 1984.
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>>> Imagem: Anna Kolosyuk ✨