Não é fácil sair de uma empresa. Enquanto estamos nela, vestimos a camisa, criamos vínculos com as pessoas, com a marca, com a rotina, nos comprometemos com horários, decisões, compromissos, prazos, qualidade dos projetos e por aí vai.
Dar às costas a tudo isso traz sempre uma sensação de vazio. E essa sensação pode ser ainda mais forte quanto mais longa é sua vida profissional e quando os desafios que você tem que enfrentar se mostram diferentes, porque o mercado está sempre em constante evolução.
Como fazer frente a isso num momento em que mudança nos abala?
Antes de tudo é preciso admitir: todo fim envolve luto
A decisão pode ter partido da empresa ou ter sido nossa, ainda assim, dúvidas e angústias podem surgir.
Quando tomamos a decisão, há um misto de dor e talvez, uma sensação de incompetência e pesar por não ter “durado para sempre”, afinal, a gente sempre fantasia o “para sempre”. Mas nesse caso, ou estamos diante de um novo desafio ou é porque a relação entre a energia investida e o prazer não estava em equilíbrio, entre a pessoa e a empresa.
A expectativa de um novo desafio nos enche de ânimo, novas perspectivas, novos conhecimentos, curva de aprendizado e muito mais. Porém, a quebra da relação com a empresa nos entristece na maioria das vezes. É similar, de qualquer forma, com outros tipos de relação interrompida, seja com família, com amigos ou até mesmo com um investimento em um empreendimento.
Quando a decisão é da empresa, grande parte das vezes ela não é tomada exclusivamente pelo seu desempenho. Existem várias razões para a empresa abrir mão de um profissional, como: redução de estrutura, mudança de foco, reorganização, mudança no perfil desejado para a função etc. Nenhuma delas tira de você um ciclo de sentimentos que começa pelo de sensação de incompetência, depois de raiva, evoluindo para a tristeza e indignação.
Como lidar com tudo isso e seguir em frente?
É importante ter em mente: nem sempre o problema é você
Sim, saiba que nem sempre sua performance é o problema. Às vezes a empresa pode não ter absorvido o que você poderia ainda contribuir e, nesse caso, vale a pena olhar para a frente e, quem sabe, “don’t you know you might find a better place to play”, como canta o grupo Oasis.
Outro fato comum é a empresa precisar de competências imediatas que você não teve a oportunidade de desenvolver.
Por isso, cabe também uma reflexão sobre como desenvolver essas tais competências, já pensando em oportunidades futuras, que pode ser através de cursos online, webinars ou grupos de estudo.
Para quem tem uma carreira executiva desenvolvida em empresas de grande porte, multinacionais, segmentos variados, culturas diferentes, mudanças de estado e de cidades, viagens internacionais e com uma experiência profunda na sua área de atividade, parece que tudo pode dar certo em breve. Que uma nova oportunidade chegará logo, logo.
#sóquenão é tão simples assim: quando você busca uma nova oportunidade e tem mais de 50 anos, o preconceito é nítido, cruel e real.
De certa forma, ao longo da carreira profissional, observamos o que acontece com outros profissionais que passaram por essa situação, mas nunca pensamos que passaremos por isso um dia também.
O mercado para os 50+
Alguns recrutadores são até sinceros em dizer que sua experiência é ótima, mas dizem também que o preconceito com a idade existe e que o cliente pode não escolher você, mesmo que seu perfil esteja alinhado e sua experiência faça sentido.
Ao contrário de outros grupos minoritários, não existem cotas para 50+. Tenho visto nas redes sociais que pessoas com mais de 40 anos estão sendo rejeitadas pelo mercado como obsoletas, numa época em que a diversidade é a palavra da vez e a idade para a aposentadoria foi ampliada, fazendo com que os profissionais precisem trabalhar até mais tarde.
Cabe, ao que tudo indica, uma reflexão aos profissionais de marketing que desenvolveram o conceito de “melhor idade”. Será que acreditam de verdade nisso quando lidam com suas empresas e equipes?
Voltar a fazer parte do mercado e restabelecer uma nova conexão com uma empresa é, sem dúvida, o grande desafio. Ouço de alguns colegas, de diferentes áreas de atuação e idade, que eles estão sendo excluídos na aplicação para a vaga. Se por um lado as plataformas de recrutamento são importantes para a empresa fazer uma primeira triagem porque recebem centenas de candidaturas, o algoritmo utilizado ainda não tem inteligência suficiente para permitir que excelentes profissionais cheguem na etapa de entrevistas, onde a interlocução ou avaliação mais criteriosa (seria humana a melhor palavra?) permitiria conhecer nuances do seu perfil, cases de sucesso ou como você reagiu em determinada situação de crise e outras oportunidades de mostrar o que você pode fazer de melhor.
Recomeços
Depois de todo fim há sempre um recomeço. Prepare-se para ele. Muitos de nós sabemos que recomeçar é sempre possível porque já passamos por isso muitas vezes.
Compartilho aqui as minhas “dicas” para essa fase.
São as que eu mesma costumo seguir porque sempre me valeram, e acredito serem úteis para nos manter bem preparados para os recomeços.
- Continue estudando. Estudar é uma forma de fazer o melhor por você mesmo. Estudando, você não se sente deslocado em nenhuma conversa.
- Esteja atento ao que acontece no mundo e nas empresas. O que está surgindo de novo? Para isso, existem grupos de WhatsApp e grupos no LinkedIn que podem ajudar você a descobrir novas tecnologias, terminologias e conteúdo.
- Pratique atividades de lazer também. O que for mais prazeroso para você. Podem ser leituras, filmes, encontros virtuais com os amigos e com a família (enquanto não podemos abraçá-los).
- Pratique atividade física. Na linha de “fazer o melhor por si mesmo”, essa foi sempre a minha melhor opção. Faço isso não só porque gosto do que a atividade física me proporciona em termos de boa aparência, mas pelo que ela me traz em termos de disposição, mobilidade física e rapidez de raciocínio. Ela me traz bom humor também, inclusive para continuar seguindo em frente, procurando colaborar para o desenvolvimento das pessoas e gerar impulso para continuar o caminho com muita energia, vontade e realização.
Acima de tudo, o importante para você, que é um profissional sério e competente, é não perder de vista o seu valor, a sua verdade, o seu potencial de fazer coisas acontecerem com qualidade, e aportar sempre o seu melhor e deixar o seu legado.
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Silvana é executiva de Recursos Humanos, certificada em Coaching, com uma carreira sólida em diferentes segmentos como Agro, Banco, Comunicação e Telecom. Neste momento busca seu recomeço.
Para dicas de como lidar com suas emoções, leia o artigo “Emoções, o que são e como são feitas”
Em busca do seu caminho? Vale ler “Propósito de Vida, o amor como condutor”
>>Imagem de Jan Tinneberg ✨